“Primeiramente: Fora Temer”: A Cantora Careca (Eugéne Ionesco), montagem universitária

Cristian Menna
2 min readJun 12, 2022

O Teatro do Absurdo, termo cunhado por Martin Esslin em 1961, surge como um movimento de crítica à sociedade após a Segunda Guerra Mundial. Diante da guerra, da fome e de outras barbaridades, o que pode ser dito que faça sentido dizer?

Foto de Eugéne Ionesco, um velhinho branco sentado com sua bengala na mão.

A Cantora Careca, peça escrita em 1949 pelo romeno Eugéne Ionesco, retrata um encontro pontual de duas famílias especialmente excêntricas, representantes de uma espécie de pequena burguesia banal e insólita, cujas discussões se dão de forma superficial, contraditória e, por vezes (na verdade, por muitas vezes), sem qualquer sentido e ligação com a realidade.

A peça foi escrita, originalmente, em francês e pode ser lida em sua totalidade, neste link, com tradução de Dirce Waltrick do Amarante para a revista Qorpus.

A montagem de A Cantora Careca analisada aqui foi realizada pela turma de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Tocantins e apresentada em dezembro de 2017, sob a direção de Gustavo Henrique. Com apoio do Instituto Araguaia Tocantins e uma equipe de 18 pessoas, a apresentação contou com 15 atores, que se dividiram entre os personagens principais e os narradores da história que davam as rubricas e parte das falas dos protagonistas.

Nos, aproximadamente, 50 minutos de duração, há pouco para se destacar de positivo. Claro, trata-se de uma montagem universitária não profissional, mas, entre os gestos imprecisos e as projeções vocais que deixaram a desejar, algumas boas e interessantes escolhas foram feitas, como a adaptação do texto para o contexto regional, as molduras suspensas no palco para permitir destaques de falas dos personagens em momentos estratégicos, produzindo uma sensação de alta permeabilidade entre o mundo ficcional e a plateia e a sonoplastia criativa o suficiente para criar uma identidade pessoal ao resultado da turma.

A peça de Ionesco é uma ótima obra para experimentação e aprendizado e, aposto, serviu para o aprendizado e satisfação da turma envolvida, mas, ainda que algumas ideias tenham somado, não se trata de uma produção que faça valer os 50 minutos que se precisa dedicar à sua apreciação. Isto é, a não ser que você queira entender o “Fora Temer” do título desta matéria.

Você pode assistir a montagem neste link e ler o texto de Eugéne Ionesco, com tradução de Dirce Waltrick do Amarante no site da revista Qorpus.

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Cristian Menna

Escritor (e fisioterapeuta) que desenha e faz política.