COVID: Adoeceu e não é COVID? Bem-vindo ao século 18!

Cristian Menna
3 min readMar 18, 2021

Estamos próximos da marca de 3 mil mortes por COVID confirmadas por dia (link)! Próximos também dos 300 mil casos diários confirmados e com uma fila de mais de 2 mil pessoas sem acesso a leitos de UTI (link). Hospitais armazenando corpos em containers de frigoríficos e uma ameaça real de empilhar corpos a céu aberto. E é por todos esses motivos, e mais alguns outros listados a seguir que eu lhe recebo desta maneira: seja bem-vindo ao século 18!

Ilustração de um suposto médico da época da peste bubônica com uma grande seringa na mão.

COVID Hoje

O problema é real e a possibilidade de você falecer desnecessariamente por um problema corriqueiro nos hospitais como uma fratura que poderá infeccionar, um apêndice rompido ou um infarto é altíssima pelo simples fato de que não há mais leitos de UTI disponíveis nem mesmo no setor privado (link).

Graças a uma série bem organizada de erros (link), o Brasil, tem visto o surgimento de novas variantes do coronavírus como a P1, a P2, a N9, todas brasileiras (link1, link2, link3). A parca vacinação e o desrespeito às medidas sanitárias que vem sendo seguidas em todo mundo têm papel fundamental no surgimento dessas variantes que podem, num cenário não muito distante, pôr em cheque a vacinação feita até aqui.

Colapso

É por conta desse descaso também que estamos vendo uma superlotação e o colapso total dos sistemas de saúde e funerário (link). Apesar dos números oficiais serem de quase 300 mil óbitos por COVID, quando olhamos para os dados gerais sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave, percebemos que, em contraste com os 20 mil casos anuais comuns, tivemos 367 mil óbitos no último ano, sugerindo que não são quase 300 mil óbitos por COVID, mas mais de 350 mil.

HIV e as campanhas de saúde

Basicamente, em 1 ano, para os que gostam de comparações simplórias como essa, o coronavírus já matou mais do que o HIV em toda história deste último no Brasil e uma das justificativas para essa diferença é simples: campanhas de promoção de saúde. Testes, campanha para uso de preservativos e educação sexual ajudaram a reduzir esmagadoramente os casos de transmissão do vírus da AIDS. Medidas como essa têm sido deliberadamente descartadas e inferiorizadas pelo governo brasileiro durante a pandemia de COVID-19 (link).

O resultado

Já temos mais de 2 mil pessoas na fila das UTIs em todo país! São mais de 600 pessoas no Paraná (link), onde faltam também oxigênio e medicamento, 230 no Distrito Federal (link), 100 no Mato Grosso (link), e 130 pessoas no Rio (link), um estado que tem seus casos controlados e caindo mas que enfrenta fila para leitos de UTI por um motivo simples: esse não é um problema de solução local!

Ainda que prefeitos e governadores venham tentando lidar com o problema em suas jurisdições, o que é uma atitude louvável de pessoas desesperadas para salvarem a vida de seu povo, um problema de saúde dessas proporções exige ações de nível nacional e em sincronia com outras nações do mundo todo. Não estamos falando de suas escolhas pessoais, mas sim da sobrevivência da espécie.

Algumas empresas como a Pfizer nem mesmo negociam com cidades e estados, pois o valor monetário envolvido não condiz com o poder aquisitivo dessas instituições.

Lidar com o problema a nível local faz acontecer coisas como o que aconteceu no RJ: pessoas de outras localidades estão indo se vacinar lá, fazendo com que o local não consiga atender a própria demanda. Além do mais, é por negligenciar a pandemia que o Brasil vem sendo uma grande “placa de Petri” multiplicando micro-organismos que podem acabar escapando da imunização das vacinas com suas mutações e reinfectando a população mundial (link).

Sim, o Brasil virou ameaça mundial.

Bem-vindo ao século 18

Portanto, agradeça a incapacidade e desinteresse do governo brasileiro em seguir medidas sanitárias estabelecidas desde 1918 (gripe espanhola), quando você perder um ente querido ou morrer em uma fila de UTI por ter fraturado uma perna, infartado, rompido seu apêndice, ter câncer, problemas pulmonares diversos ou qualquer outra doença que precisaria de um leito de UTI para ser tratada ou remédios, analgésicos, algodão e gases ou qualquer outro recurso ou profissional sendo extenuantemente aplicado para lidar com um colapso totalmente evitável do sistema de saúde.

Em outras palavras, agradeça ao governo brasileiro por estarmos vivendo uma experiência de século 18 em 2021.

--

--

Cristian Menna

Escritor (e fisioterapeuta) que desenha e faz política.